domingo, 30 de agosto de 2020

O Bolo de Aniversário do Marido

Sou péssima em presentes de aniversário. Sempre tento buscar algo significativo e cheio de referências impossíveis e fico entre achar que a pessoa vai adorar ou vai ignorar. Enfim, é mais uma das coisas que me deixam insegura. Sobretudo quando envolve uma surpresa.

Ano passado, meu marido fez 40 anos e eu queria uma coisa especial. Envolvi os filhos e tal. Fizemos uma caricatura do "Roqueiro Quarentão", com as mesmas camisetas de banda de compramos sempre, acrescentando outras coisinhas "engraçadinhas". Ele gostou (acho!), mas não teve o impacto que eu planejei.

Nesse ano de 40 +1, quando ele realmente vira a curva da maturidade, decidi investir no básico. O meu presente será o melhor bolo de aniversário possível. E - quase - não tem erro, já que ele escolheu o sabor (eu dei as duas opções que sei que ele gosta: morango ou maracujá).

Mas em um bolo de aniversário, sobretudo como presente, o resultado final é só uma parte. Recorri à minha mãe pela receita de uma massa de pão de ló que eu só faço em momentos especiais.

5 ovos | 8 colheres de suco de laranja | 9 colheres de açúcar | 12 colheres de farinha de trigo  1 colher de fermento químico em pó.

É o único bolo que faço pela receita, dá pra entender por quê?

Primeiro, o planejamento. Serão duas massas, regadas com calda especial. No recheio um creme de confeiteiro com toques de baunilha e pedaços de morango. Para cobertura, um merengue branco, morangos e detalhes com calda de gelatina.

Todos ingredientes a postos, cozinha arrumada e tal. Vamos começar!

Duas massas de bolo exige uma logística especial, assim como o casamento.

Separa-se as partes que interessam em porções, nesse caso a gema e a clara são batidas separadamente.

A clara em neve, batida na minha maravilhosa batedeira planetária (presente de quem?), fica volumosa e firme. Já a gema, precisa do suco de laranja e, mais ainda, do açúcar para virar um creme homogêneo e cheiroso. Primeiro, bate-se só o suco e a laranja em velocidade baixa, depois, com o açúcar, a potência da batedeira é bem vinda. Essa parte exige um pouco mais de tempo e cuidado, esse creme é meio temperamental.




Depois que minha maravilhosa batedeira faz o seu trabalho, é momento de misturar a farinha de trigo com um fuê. De 4 em 4 colheres, para não desandar o creme de gema; com a delicadeza de um momento frágil, que exige atenção. São 3 etapas, que engrossa o creme original, e dará sustentação ao pão de ló (ou ao casamento). As claras em neve são aqueles momentos bons por si só, que ficam reservados e devem ser incorporados naquelas situações que exigem um pouco de leveza. A mistura das claras em neve à massa deve ser delicada, mas efetiva. O fermento é o toque final, para fazer o bolo crescer e manter as boas sensações por mais tempo.

Forma untada e enfarinhada, um forno pré-aquecido, mas não muito quente, recebe a primeira massa. Aí lava-se tudo, reorganizando a bancada, para a próxima massa. O recomeço do processo pressupõe que teremos duas massas iguais no resultado, um engano comum. Seguimos os mesmos passos, mas uma leve assimetria vai persistir. Quando mais rápido se aceita as imperfeições dos processos, mais feliz seremos com os resultados. E não estou falando só de bolo (claro!).

Outra coisa é nos resíduos do processo. Quando quebram-se os ovos, a casca vai para algum lugar. No meu caso, coloco um prato na bancada e vou acumulando. É fundamental esvaziar o prato entre um processo e outro. Na insistência, as coisas acabam transbordando e, acreditem, isso não é nada bonito.

Vamos rever o processo do "bolo": separar as coisas para ver o lugar que cada uma ocupa na nossa vida; perceber as coisas boas que se avolumam por si só e aquelas precisam de ajuda para crescer e fazer as misturas com delicadeza; esvaziar os resíduos, pois outros estão sempre a caminho; e, nos dispor para sempre começar de novo.

E, depois das massas de pão de ló prontas, lindas, saborosas e cheirosas, chega o momento do recheio. É legal quando conseguimos produzir massas de qualidade, mas a quem queremos enganar? é o recheio de deixa tudo mais doce, bonito e colorido. Nesse caso, temos várias etapas:

1) Calda para a massa (tudo na medida do leite condensado): 1 leite condensado | Leite de coco | leite de vaca - misturar tudo.

2) Creme com morangos: 1 leite condensado | 3 gemas | 3 colheres de amido de milho | 1 colher de baunilha | 500 ml de leite - acrescentar ingredientes na ordem e ir mexendo, levar ao fogo até engrossar| 1 caixa de morangos (limpos e picados).

3) Montagem: Massas divididas no meio | regar cada parte com 1/4 da calda | entre as massas, usar 1/3 do creme de morangos - deixar na geladeira na forma (de preferência de um dia para o outro).


4) Cobertura: 1 xícara de açúcar e 1/2 xícara de água - fazer uma calda | 3 claras - iniciar a bater e acrescentar a calda ainda quente, batendo até ficar no ponto | Depois de cobrir o bolo com o merengue, usa 1 caixa de morango espalhando-os harmoniosamente | 1 colher de amido de milho + 1/2 xícara de açúcar + 1 xícara de água - misturar tudo e levar ao fogo, quando engrossar, acrescentar 1 gelatina de morango. Jogar sobre os morangos, ainda morna.



É isso, bolo de aniversário como presente para o marido dá trabalho - assim como o casamento. Mas, enquanto o resultado for gostoso, equilibrado no sabor e deixar aquele gostinho de quero-mais, vale à pena. Claro, fica um monte de louça para lavar. Mas pode-se deixar para os filhos, ir lavando como parte do processo ou deixar o próprio homenageado fazer parte do seu presente.

domingo, 24 de maio de 2020

Resolvendo um Hiato Culinário com Bolo de Aipim

Um hiato é um encontro de duas vogais em uma palavra, mas que ocupam sílabas diferentes. No sentido figurado, representa uma lacuna, um espaço que fica entre duas coisas juntas.

Mais ou menos como eu e minha cozinha. Ficamos semanas há alguns passos separadas. Aqui em casa a cozinha tem dois espaços: a parte da mesa e a parte do fogão/geladeira/pia, separadas por um balcão. Pois bem, nessas semanas até olhei para o lado de lá, mas fiquei só do lado de cá, com a culinária do marido.

Foi um hiato culinário, estive resistindo ao desejo - e necessidade - de cozinhar, pois não gosto de fazê-lo levianamente, com as coisas mais ou menos no lugar. Há todo um ritual para começar, desenvolver e finalizar o processo culinário. Ao menos pra mim.

De fato, nada se resolveu. Apenas vim com tempo para a cozinha, a ponto de organizar o lado de lá pra me receber. Foram dias de flerte. Em uma noite de estudo na mesa grande, não resisti. Havia música, havia vinho, havia aipim congelado! As condições estavam favoráveis. E foi uma ótima maneira de resolver esse hiato culinário.

Preciso falar dessa receita da minha mãe (não sei se é dela, mas aprendi com ela). Pensem em um bolo de aipim sem aquela textura gosmenta? Cresci comendo esse bolo, com a raiz e o fruto do meu país, que me remete ao nordeste (dos meus pais) e aos indígenas que aprenderam a manipular a mandioca. Amigos do Rio Grande do Sul acham esse bolo particularmente interessante, em alguns círculos, ele virou oficial.


Mas faço esse bolo de uma maneira diferente de cada vez. Nesse caso, eu mudei a receita (desculpe, mãe!). Usei biomassa de banana verde (por isso a cor) e côco queimado (em cima). 

O segredo está no tratamento do aipim: deve-se descascá-lo, congelá-lo e descongelá-lo antes de qualquer coisa, mesmo que sirva para o cozimento, este processo deixa o aipim "molengo" e propício para ser triturado/ralado. Muito da minha animação veio do marido ter se ocupado dessa parte (esse é um dos poucos bolos que ele gosta).


Uso um processador para triturar o aipim, mas pode ser ralado.

Com o aipim preparado, o desenvolvimento da receita é muito simples. Como usei biomassa, fiz uma base que uso em várias receitas de bolo: um potinho de biomassa (eu preparo com banana verde, representa uns 200 g), ovos inteiros (usei 5, pois era 1 kg de aipim) e açúcar (usei demerada, uma caneca cheia). Essa base pode ser usada em qualquer bolo, acrescentando-se outros ingredientes. Na receita original, usa-se óleo vegetal (1 xícara) ou margarina (100g). O resto é igual.

Deixo bater até ficar esse creme, bem homogêneo.


Juntei o creme no aipim, com 1 pacote de côco ralado (branco), 200 ml de leite de côco e 1/2 xícara de farinha de trigo. Misturei tudo com um garfo (bem devagar, pois ficou muito cheio) e depois acrescentei 1 colher de fermento em pó (químico). Pode ser usado leite normal também.



Após untar e polvilhar a forma, com o forno já quente, joguei o côco ralado queimado por cima. Esse bolo leva uns 35 - 40 min para assar, em forno médio. Ele não escurece muito na parte de cima, fica levemente dourado, cuidar para não assar demais. Ele fica firme e macio, sabemos que está pronto do jeito tradicional: com um palito saindo limpo.

Se há espaço entre duas coisas juntas, podemos diminuí-lo com pequenos passos. Olhar com cuidado e respeitar o momento é fundamental. Além disso, vamos construindo aos poucos as condições favoráveis, com a ajuda de quem nos ama.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Em Defesa do Meu Chimarrão Carioca

Sou carioca. Morei em Bagé/RS quando bem pequena. Moro no RS desde 2003. Tenho marido e filho gaúchos (que não fazem chimarrão). 

Essas são minhas credenciais pra começar dizendo que o chimarrão faz parte de minha vida, antes mesmo de fazer. Meus pais levaram a cuia e bomba na mala, ao voltarem ao Rio, mas não sabia bem pra que aquilo servia.

Já nas minhas primeiras visitas ao RS (em 2001), me arrisquei (e passei muita vergonha) no chima dos amigos. Atualmente, há muito espaço para o chimarrão na minha rotina, tanto no trabalho quanto em casa. Antes de iniciar minhas atividades docentes, tive contato com o maravilhoso livro de Carlos Urbim "O Negrinho do Pastoreio e Outras Lendas Gaúchas", no qual é apresentada uma versão da lenda da Erva-Mate, de origem indígena.

Primeiros instrumentos para o Chimarrão (acervo pessoal)

Técnica de secagem da erva-mate (acervo pessoal)

Muitos anos depois, em visita ao Parque Gaúcho (Gramado/RS), tive conhecimento de outras relações entre o chimarrão e a cultura indígena no sul na América do Sul. Não é só no Brasil (ou no Rio Grande Sul) que temos Gaúchos. Para quem é carioca, há a impressão equivocada que, abaixo de São Paulo, é tudo gaúcho (?!). Não é. Mas a cultura gaúcha, da qual o chimarrão é parte, tem relação com vários povos indígenas do Sul (indico episódio sobre o tema, do canal Buenas Ideias). 

O fato de eu apontar tais elementos da cultura gaúcha, não significa que eu não saiba que houve uma reinvenção da narrativa a partir da transformação cultural da "Guerra dos Farrapos" para uma conveniente "Revolução Farroupilha", que está muito impregnada no cotidiano dos gaúchos, pelos CTGs das grandes e pequenas cidades. Tá bom, parei.

Voltando ao chimarrão, como representação da interculturalidade do povo gaúcho. Há duas maneiras de incluí-lo no nosso cotidiano: como uma roda social (minha mãe dizia que era um nojo aquela bomba passando de boca em boca) ou como um momento solitário de reflexão (mais de acordo com a lenda apresentada por Urbim).

Pois bem, prefiro as duas formas! No trabalho, em geral, a roda gira com vários pequenos detalhes que favorecem as relações entre pessoas que dividem fins profissionais. Digo até que, muitas vezes, eu que começo a roda! Houve vezes em que não tinha chimarrão porque contaram que eu levaria (veja bem!). Além disso, já fui muito acusada de "dormir com a cuia na mão" (fiquem com a interpretação do Guri de Uruguaiana sobre os mandamentos do chimarrão). Tudo intriga da oposição.

Por tudo isso, pra mim, chimarrão sempre é um ritual culinário e, como tal, está cheio de significados. Não quero defender um chimarrão qualquer. 

Começa por uma boa cuia, quanto mais curtida, melhor, e por uma bomba de qualidade (não muito grande, de inox). Passa pela qualidade da erva-mate (de preferência moída da grossa) e pela temperatura da água (nem fervendo, nem morna). Como na educação, os elementos fazem diferença, mas o mais importante é o processo.

Meu jeito "Carioca" de preparar o Chimarrão (arquivo pessoal)

A despeito da minha "pedagogia" que vive caindo da bomba do chimarrão, esses dias em casa me colocam em uma postura reflexiva. Nada melhor do que um mate amargo (mas com toque de ervas aromáticas) para comungar com minhas ideias pedagógicas.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Retrospectiva Culinária da "Quarentena"

Depois de um tempo sem visitar muito a cozinha de casa, ter esse tempo trouxe uma certa compulsão. Passei a semana fazendo mais comida do que a fome de todos aguentava. Agora, olho em retrospectiva e vejo como o exagero é marca do nosso tempo. Nos primeiros dias fiz muito, depois não fiz nada. Parece que equilibra, mas não é assim que funciona.

Comecei com um Pudim de Leite, atendendo ao gosto do Filipe.


Faço pudim de leite condensado há anos, porém andei "inovando", incluindo banana, pinhão, coco... o que desagradou muito meu filho Filipe. Pra ele, tem que ser pudim "normal", no máximo um toque de baunilha.

Vinha um pouco contrariada com o pudim feito no microondas, não me parecia a mesma coisa na textura ou na aparência. Minha mãe passou a fazer o pudim na panela de pressão, e fica muito bom, mas como não tenho forma para colocar na panela de pressão, uso minha Wok com tampa, que cabe bem a minha forma, e tem ficado ótimo.

Receita: 

Começo pela calda com 1 e 1/2 xícara de açúcar (uso demerara). Após caramelar na frigideira, coloco meio copo de água. A calda fica grossa, porém maleável, melhor de trabalhar na forma. É bom deixar esfriar um pouco.
Para a massa, coloco tudo no liquidificador - 1 leite condensado + 1 leite de coco (200 ml) + 2 copos de leite (500 ml) + 3 ovos inteiros + 1 colher de amido de milho + 1 colher de baunilha. 
Coma forma pronta e a água fervendo na wok, bato a massa, despejo na forma caramelada e cubro com papel alumínio.
Só "esquecer" por uns 30 min no banho maria. Sugiro apagar o fogo quando estiver firme (pode usar um palito) e deixar esfriando com a panela tampada. Depois é só desenformar e geladeira.


No dia seguinte, fiz um Empadão de Camarão, já que meu marido tinha comprado camarão, o que não é comum.


Essa receita é clássica com recheio de frango, mas já fiz com muitos recheios diferentes. O importante é ter alguma cremosidade (molho grosso ou requeijão ou creme de leite). 

Receita:

Primeiro sempre o recheio. Nesse caso, o camarão já estava limpo e descongelado. Refoguei com alho, cebola e tomate, juntei molho de tomate, sal e pimenta. Ficou um molho bem grosso e coloquei creme de leite e mussarela ralada (não tinha mais amido de milho, usaria uma colher). É importante deixar esfriar um pouco para montar a torta.
A massa é padrão: 3 xícaras de farinha de trigo + 1 colher de fermento químico em pó + 1 ovo inteiro e 1 gema + 3 colheres de margarina + sal. Junto tudo com uma colher, usando principalmente as costas da colher para amassar e depois vou trabalhando a massa com as mãos. É possível que precise um pouco mais de farinha ou um pouco mais de margarina, para a massa ficar macia, nem engordurada demais, nem quebradiça.
Não costumo deixar descansar a massa, mas pode-se deixar. Vou forrando a forma, pela borda em direção ao fundo, evitando que fique massa acumulada. Após forrar a forma toda, furo o fundo com um garfo e coloco o recheio morno. Dobro a massa da lateral, para iniciar a cobertura (tampa).Vou pegando pedaços da massa e amassando na palma das mãos, posiciono os pedaços até cobrir todo o recheio. Para finalizar, pincelo uma gema com um pouco de café, assim uniformiza a cobertura feita em pedaços.
O empadão assa em forno pré-aquecido, por uns 40 min. A cobertura fica dourada e o cheiro se espalha pela casa toda. Melhor cortar depois de descansar um pouco, o recheio quente tende a ficar escorrido.

 No outro dia, a janta foi Pizza Caseira, para aproveitar o recheio de camarão que sobrou.


 


Essa pizza faz parte do meu repertório. Faço a massa há muito tempo e já ensinei para muita gente. Já publiquei a receita antes (AQUI)

Basicamente é: 2 xícaras de farinha de trigo + 2 colheres de fermento biológico seco + sal  + 1 colher de açúcar + 1 ovo inteiro + 2 colheres de margarina + 1 colher de óleo + 1 copo de leite. Misturar tudo, acrescentar mais farinha até a massa desgrudar das mãos. Trabalhar a massa em uma superfície lisa. Deixar crescer. Abrir a massa. 

Além da pizza de camarão, fiz com calabreza e ovo cozido (Pedro não come camarão) e uma doce com chocolate, amendoim torrado e moído e leite condensado. Enfim, basicamente qualquer coisa que tem na geladeira, vira o recheio de uma pizza.

Tinha colhido 3 limões sicilianos no meu pátio, como o pé ainda é novo e não tenho esses limões sempre, decidi fazer algo especial, uma Torta Mousse de Limão Siciliano.




Não fiz essa torta como sempre faço. Me inspirei na receita da torta de maracujá e fiz uma mousse de limão para recheio. Essa é minha torta preferida de todas e o limão siciliano deu um toque especial.

Receita:

Massa que sempre faço: 2 xícaras de farinha de trigo + 1 colher de fermento em pó químico + 1/2 xícara de açúcar + 3 colheres de margarina + 1 ovo inteiro. Misturar tudo com uma colher. Amassar com as mãos. Forrar forma de aro removível. Furar o fundo da massa. Assar em forno médio, cuidar para não escurecer muito.

Para a mousse de limão, usei: 1 e 1/2 caixa de leite condensado + 2 caixas de creme de leite + suco de 3 limões (grandes) + 1 sachê de gelatina sem sabor. Antes de tudo, raspei a casca dos limões, para o toque final. Esse recheio não vai ao fogo. Coloquei tudo no liquidificador, menos a gelatina, que foi preparada conforme o rótulo (hidratação e microondas). Após bater um pouco, acrescentei a gelatina e bati mais. A mousse fica aerada, mas firme.


Com a massa pronta e fria, coloquei a mousse ainda cremosa, salpiquei as raspas da casca dos limões e geladeira. Ficou melhor no outro dia, mas ainda sobrou massa para fazer uns biscoitinhos.

Pra terminar a semana de culinária, faltou um Bolo de Chocolate, para o Pedro.


Meu filho Pedro só comeu a pizza de calabreza de toda essa lista. É uma receita da minha mãe, que eu nunca consigo fazer igual, mas ele (e o Filipe) gostou.

Receita:

2 xícaras de farinha de trigo + 1 xícara de açúcar + 2 colheres de margarina + 1 xícara de achocolatado + 3 ovos inteiros + água + 1 colher de fermento em pó químico. Misturo os secos, sem o fermento e a margarina. Os ovos vão em uma caneca, completando-a com água. Junto tudo na batedeira ao mesmo tempo e bato em velocidade média até ficar bem homogêneo. No final, o fermento. Asso em forno pré-aquecido por 30 min, fica bem cheiroso.
Fiz uma cobertura com leite condensado, leite (só um pouco, talvez 1/3 de xícara), baunilha e castanha de caju triturada (porque eu tinha em casa). Misturei tudo em uma panela e levei ao fogo brando até cozinhar. Joguei no bolo ainda quente e salpiquei um pouco de castanha por cima.

Ufa! Foi bastante coisa. Foi extremamente prazeroso fazer esses pratos e ver minha família se deliciando. Não sobrou nada de nada. Além de tudo que está nessa lista de retrospectiva, também fiz feijão, legumes de vários jeitos e a eterna briga do arroz branco/arroz integral, mas aí já é a vida prosaica.

Mesmo que tenha exagerado, acho que eu precisava dessas sessões de culinarioterapia em sequência. Depois disso, meio que pirei com as noticias e ainda não voltei a cozinhar, nem o básico. É muito angustiante não poder planejar o depois, mas não dá pra se esconder, seja fazendo comida ou escrevendo, a realidade bate a nossa porta e precisamos lidar com ela, da melhor maneira possível.

Ainda não sei bem o que vou fazer. Sei, no entanto, que quero seguir cozinhando e escrevendo. Quem sabe me torno uma pessoa melhor nesse processo?


Observações:

Fui liberada de ir ao trabalho em 23/03/20, com o fechamento das escolas. Dessa forma, estou fazem 10 dias que não saio de casa. Tenho o privilégio de ter um espaço aberto, com muito verde, além disso, há muitas janelas, o que minimiza a sensação de clausura.

Devo dizer que passei 27 dias (de férias) com a minha mãe, no Rio de Janeiro. Cozinhei bastante por lá, mas é diferente de cozinha "do meu jeito", na minha casa. Além disso, na rotina de trabalho (atuo na assessoria pedagógica de uma rede com 86 escolas) e faculdade (faço mestrado desde 2018), tem me sobrado muito pouco tempo para cozinhar.


Cozinhar - e escrever - para manter a sanidade

De tempos em tempos, é preciso parar tudo para o próximo passo. Posso dizer que não fiz muito isso nos últimos anos. Penso que só fui seguindo. Talvez por isso, hoje me percebo mais perdida do que o momento permite.

Ok, estamos em uma pandemia. O fim de semana acaba e a rotina precisa ser outra. Ficar em casa nessa semana me mostra que há escolhas que precisam ser revistas. Como terei tempo, acho prudente assumir o processo com mais tranquilidade. Não preciso de respostas urgentes, só preciso manter a sanidade enquanto tudo parece sem sentido.

Quanto mais mergulho nos contornos que os diversos aplicativos me oferecem, mais decido que é coerente me manter na linguagem que domino. Quanto mais fico em casa, mais me sinto em visita. Por isso, escrevo e por isso cozinho. Quero me sentir eu mesma, seja lá o que isso signifique.

Escrevo, porque é tempo de ponderar as palavras. Há muita informação, de todos os lados, com verdades mais ou menos verdadeiras. Viviane Mosé aponta que sempre há um fundo de verdade nas Fake News, por isso, no exercício de relativizar as verdades, leio os diferentes pontos de interpretação que me chegam. Mas o Brasil ainda não chegou na pós-modernidade: o desmanchar das polaridades briga com a verdade que se constrói na oposição. Quer coisa mais louca do que defender uma posição negando a posição do outro? É preciso cuidar para que as palavras não ataquem, ao tentar se defender. É preciso refletir. O que estou defendendo mesmo?

Então, cozinho. Porque, no desacelerar da rotina, as relações familiares exigem materialidade. Uma casa organizada, limpa, confortável para nossas necessidades. E, um motivo de fugir da impotência que paira sobre nós, a fome nossa de cada dia! Mas não cozinho para saciar a fome da minha família. Cozinho, porque preciso ver que há um dia após o outro; porque preciso estocar prazer para o futuro; porque não posso parar de viver enquanto a morte não vem. Felizmente tenho minha família nesses dias tristes! Há espaço para muitos reflexões ao se preparar  um bolo. Ao separar os ingredientes, medir cada um, misturá-los no momento certo... cada etapa do processo redimensiona o tempo e faz do produto final, mais do que um alimento para o físico.

Tenho muito o que fazer em casa além do meu trabalho, que não parou totalmente. Mas cada notícia me impacta, deixando a vida prosaica totalmente sem sentido. Como a humanidade não está ao meu alcance, que eu possa ressignificar os dias iguais que vivi, nesses dias atípicos de distanciamento físico (como diz Eliane Brum). 

Ainda há muito o que escrever e cozinhar, que eu encontre sanidade nessa parada forçada, e nos próximos passos, de acordo com o que a vida exigir.




domingo, 30 de julho de 2017

Que o Alimento seja o teu Remédio!

A saúde é o equilíbrio. É o ponto de encontro entre o funcionamento harmônico das nossas células e o uso que fazemos delas em nossa vida social. Somos seres complexos e essa é uma definição tão genérica quanto simplória. O fato é que nosso modo de vida interfere diretamente no nosso corpo e não é preciso estar realmente doente para saber que algo não vai bem.

Mesmo para alguém que não tem conhecimento técnico quando ao funcionamento do corpo - físico e emocional - e a composição dos alimentos, fui construindo "verdades" sobre o que é uma "alimentação saudável". O problema é que nem sempre consigo organizar a minha rotina para que o meu cotidiano reúna elementos que auxiliem o equilíbrio do meu corpo e das minhas emoções. Na mesma medida em que busco os integrais, valorizo as saladas e entendo o papel da água no meu organismo, também abuso dos doces, finjo que não sei o que estou comendo e incluo bebidas álcoolicas na minha rotina semanal.

Todas as decisões - boas e ruins - se expressam na aparência. Além disso, nos vemos nos outros, fazendo relações com quem fomos, quem somos e quem gostaríamos de ser.

Nesse sentido, fico pensando nas circunstâncias que me trouxeram até esse momento. Em quase 20 anos, saí de um corpo de 55 kg para um de mais de 90 kg! Sou quase 2 do que fui. É claro que a questão aqui não é só o peso. Nessa caminhada tive pequenos problemas físicos, mais ou menos relacionados à alimentação desquilibrada. Questões que minam a minha qualidade de vida, meu bem estar e minha auto-imagem.

Eu e meus 90 Kg, curtindo o verão de 2017 em Parati/RJ

Algo não vai bem com meu corpo. Mas vou escondendo por baixo dos panos e produtos de "beleza". Me sinto inchada, tenho a pele inflamada e ressecada, meu rosto vive cansado, meu cabelo está sem vida. Mais do que isso. Minhas articulações doem, minha barriga dói, minha cabeça dói. Essa sensação de mal estar me faz viver no automático, buscando sempre vencer mais um dia. Isso não é vida!

Então eu decidi que farei do alimento o meu remédio. Para que isso seja possível, precisarei radicalizar. Me impus um desafio de 10 semanas. 10 semanas sem carne, sem álcool, sem refinados. 10 semanas com muita água, frutas e legumes, sementes variadas e exercícios físicos. 10 semanas de muita culinária. 10 semanas de autocontrole para encontrar o equilíbrio perdido.

Parei para pensar no que estava em excesso e no que faltava na minha dieta e no meu modo de vida. Montei uma tabela para me ajudar e organizei algumas coisas ao meu redor para me estimular. Já tenho quase 40 anos. Não preciso estar magra, só quero me sentir bem quando olhar para mim mesma. Acho que é momento de começar. E que seja de dentro para fora.

sábado, 29 de julho de 2017

Ops... Fiz um Bolo!



Estou em recesso escolar. Aquela parada preciosa no meio do caminho, onde podemos colocar as ideias e as coisas em casa em ordem. Afinal, a rotina escolar é intensa e, sei lá... as vezes só vou no automático.

Aliás, tenho feito muito isso... pensar pode ser bem doloroso e, precisei de um tempo para conseguir colocar as angústias em palavras - e receitas. Mas, não deixei de cozinhar, não deixei de experimentar texturas em busca de um sabor da minha cabeça.

Bem, ando lendo muito Rubem Alves... ando pensando muito no meu pai... Hoje, acordei mais animada para colocar as coisas em ordem na cozinha, já que esse recesso não durará mais um fim de semana. Uma amiga pediu uns vidros e eu lembrei que tenho dezenas de vidros guardados para organizar minhas farinhas... Então, sabem como é... uma coisa puxou outra e... ops, acabei fazendo um bolo!


Ok, vamos com mais calma.

Há tempos tenho experimentado novas farinhas nas minhas receitas. Farinha de Berinjela, de Aveia, de Arroz, de Quinoa, de... enfim, muitas farinhas... Mas compro um pouco de cada para experimentar... E estava tudo uma bagunça... então:


Mas aí, estava tudo arrumado na cozinha... ainda havia luz lá fora, água quente para um chimarrão delicioso (sério, coloquei casca de abacaxi na água... um espetáculo!) e muita música para ouvir... então eu lembrei que tinha na geladeira um pote com pinhão do outro dia, então uma coisa se juntou a outra... Finalmente iria fazer um Bolo de Pinhão!

Receita é como o processo de aprendizagem.... Vamos pegando uma ideia daqui, outra dali... vamos testando, experimentando... até chegar no resultado final daquela parte do processo.

1 - Pinhão cozido, descascado.

2- Triturar o pinhão no processador.

 3 - Coloquei semente de girassol. Torrá-la sem óleo.

 4 - Juntar as sementes torradas ao pinhão triturado.

 5 - Fica uma farofinha. Pode ser mais triturado.

 6 - Juntar os demais ingredientes. Coloquei flocos de aveia, farinha de trigo integral, farinha de arroz e demerada.

 7 - Mais um pouco de leite, 3 ovos e 1 colher de margarina (mas queria colocar biomassa). Também tem o fermento em pó, 1 colher.

 8 - Assei em forno quente, em 24 lindas forminhas individuais. 

  9 - Quando começa aquele cheirinho de bolo a se impregnar pela cozinha. Está pronto!

É isso, bem, não é só isso. Foi o livro do Rubem Alves que eu li nessa semana; a saudade que me fez rir e chorar ao mesmo tempo, o passeio em Cambará... enfim... muitas pequenas coisas que, juntas, formam algo novo. 

Passei meses no automático. Acho que agora parei para me perceber melhor. Que esses bolinhos sejam o anúncio de um tempo bom na roda da vida.