sábado, 1 de novembro de 2014

A Pizza das Amigas

Uma receita é só um texto com uma sequência de ingredientes e instruções para o preparo de alguma coisa, certo? Errado! Uma receita é o resultado de uma experiência, um estudo de caso que nunca pode ser reproduzido da mesma maneira, pois as circunstâncias mudam a cada momento.



Podemos até ter uma inspiração, ler o texto, seguir as instruções. Mas o sucesso do prato está no envolvimento que tivermos com a tarefa de prepará-lo. É pegar a receita, analisar as condicionantes, refletir sobre a estrutura, usar a memória e criar nossa própria trajetória. Qualquer semelhança com o fazer pedagógico não é mera coincidência.

Gosto de compartilhar minhas receitas. Agradeço aos que compartilham as suas. Sejam elas culinárias ou pedagógicas. Mas é um grande esforço que faço para enquadrar o jeito que tenho para preparar alguma coisa. De uma maneira geral, passo tempo aprimorando minhas experiências culinárias, não penso muito no "quanto" e no "como", apenas vou adaptando possibilidades a partir da necessidade ou desejo de mudar um sabor para que ele se aproxime mais do que existe na minha memória.

Eu cozinho para as pessoas, me incluindo entre elas. Talvez seja um movimento narcisista, mas há todo um prazer extra em saborear um prato quando chegam comentários honestos e elogiosos. Mas minha vaidade me remete à necessidade de deixar a minha receita ganhar um novo contorno pelas mãos de quem ela agradou. Aí, ela já não é mais minha.

Uma das coisas que costumo fazer para visitas é pizza caseira. Foi uma receita que veio de uma amiga de trabalho da minha mãe, que passou pelas minhas mãos e se tornou uma marca dos encontros na minha casa. Ou seja, não importa de onde veio, ela é minha. A pizza da Daniela, que ganhou até o respeito da minha mãe.

 





É comum me pedirem a receita dessa pizza depois de experimentarem, mas da última vez, sugeri uma oficina, onde experimentei uma metodologia de ensino. Reunimos um grupo de amigas, juntamos os ingredientes, os utensílios, conversas, risadas, comemorações. Mas eu não iria fazer para que aprendesse, eu iria instruir de fora, recriando meus passos enquanto as minhas amigas descobriam os seus. "Junte farinha, fermento biológico instantâneo, ovo, margarina, sal... ah, e o leite, quase esqueci!" e mais, "misture com uma colher, mais farinha... é hora de sovar a massa... vai sentindo... mais farinha... que bolinha linda ficou!"

E a pizza já não era mais minha, não fui eu quem mediu e organizou os ingredientes, quem sovou a massa, que, abriu a massa em um disco fino... ou quem ralou o queijo, quem picou a linguiça, quem organizou o recheio, quem montou uma combinação de sabores... Enfim, era uma pizza que trazia mais do que a minha experiência, que uniu talentos e afetos em uma tarde cinza, que agregou histórias, confissões e risadas... era a Pizza das Amigas. Agora, espero que cada uma pegue a minha receita e mantenha a tradição de compartilhar, fazendo dela a sua receita.

2 comentários:

  1. Que delicia prima! Adoraria poder provar!

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    1. Vamos marcar uma oficina dessas para fazermos a Pizza das Primas! Janeiro já está quase aí!

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