domingo, 30 de agosto de 2020

O Bolo de Aniversário do Marido

Sou péssima em presentes de aniversário. Sempre tento buscar algo significativo e cheio de referências impossíveis e fico entre achar que a pessoa vai adorar ou vai ignorar. Enfim, é mais uma das coisas que me deixam insegura. Sobretudo quando envolve uma surpresa.

Ano passado, meu marido fez 40 anos e eu queria uma coisa especial. Envolvi os filhos e tal. Fizemos uma caricatura do "Roqueiro Quarentão", com as mesmas camisetas de banda de compramos sempre, acrescentando outras coisinhas "engraçadinhas". Ele gostou (acho!), mas não teve o impacto que eu planejei.

Nesse ano de 40 +1, quando ele realmente vira a curva da maturidade, decidi investir no básico. O meu presente será o melhor bolo de aniversário possível. E - quase - não tem erro, já que ele escolheu o sabor (eu dei as duas opções que sei que ele gosta: morango ou maracujá).

Mas em um bolo de aniversário, sobretudo como presente, o resultado final é só uma parte. Recorri à minha mãe pela receita de uma massa de pão de ló que eu só faço em momentos especiais.

5 ovos | 8 colheres de suco de laranja | 9 colheres de açúcar | 12 colheres de farinha de trigo  1 colher de fermento químico em pó.

É o único bolo que faço pela receita, dá pra entender por quê?

Primeiro, o planejamento. Serão duas massas, regadas com calda especial. No recheio um creme de confeiteiro com toques de baunilha e pedaços de morango. Para cobertura, um merengue branco, morangos e detalhes com calda de gelatina.

Todos ingredientes a postos, cozinha arrumada e tal. Vamos começar!

Duas massas de bolo exige uma logística especial, assim como o casamento.

Separa-se as partes que interessam em porções, nesse caso a gema e a clara são batidas separadamente.

A clara em neve, batida na minha maravilhosa batedeira planetária (presente de quem?), fica volumosa e firme. Já a gema, precisa do suco de laranja e, mais ainda, do açúcar para virar um creme homogêneo e cheiroso. Primeiro, bate-se só o suco e a laranja em velocidade baixa, depois, com o açúcar, a potência da batedeira é bem vinda. Essa parte exige um pouco mais de tempo e cuidado, esse creme é meio temperamental.




Depois que minha maravilhosa batedeira faz o seu trabalho, é momento de misturar a farinha de trigo com um fuê. De 4 em 4 colheres, para não desandar o creme de gema; com a delicadeza de um momento frágil, que exige atenção. São 3 etapas, que engrossa o creme original, e dará sustentação ao pão de ló (ou ao casamento). As claras em neve são aqueles momentos bons por si só, que ficam reservados e devem ser incorporados naquelas situações que exigem um pouco de leveza. A mistura das claras em neve à massa deve ser delicada, mas efetiva. O fermento é o toque final, para fazer o bolo crescer e manter as boas sensações por mais tempo.

Forma untada e enfarinhada, um forno pré-aquecido, mas não muito quente, recebe a primeira massa. Aí lava-se tudo, reorganizando a bancada, para a próxima massa. O recomeço do processo pressupõe que teremos duas massas iguais no resultado, um engano comum. Seguimos os mesmos passos, mas uma leve assimetria vai persistir. Quando mais rápido se aceita as imperfeições dos processos, mais feliz seremos com os resultados. E não estou falando só de bolo (claro!).

Outra coisa é nos resíduos do processo. Quando quebram-se os ovos, a casca vai para algum lugar. No meu caso, coloco um prato na bancada e vou acumulando. É fundamental esvaziar o prato entre um processo e outro. Na insistência, as coisas acabam transbordando e, acreditem, isso não é nada bonito.

Vamos rever o processo do "bolo": separar as coisas para ver o lugar que cada uma ocupa na nossa vida; perceber as coisas boas que se avolumam por si só e aquelas precisam de ajuda para crescer e fazer as misturas com delicadeza; esvaziar os resíduos, pois outros estão sempre a caminho; e, nos dispor para sempre começar de novo.

E, depois das massas de pão de ló prontas, lindas, saborosas e cheirosas, chega o momento do recheio. É legal quando conseguimos produzir massas de qualidade, mas a quem queremos enganar? é o recheio de deixa tudo mais doce, bonito e colorido. Nesse caso, temos várias etapas:

1) Calda para a massa (tudo na medida do leite condensado): 1 leite condensado | Leite de coco | leite de vaca - misturar tudo.

2) Creme com morangos: 1 leite condensado | 3 gemas | 3 colheres de amido de milho | 1 colher de baunilha | 500 ml de leite - acrescentar ingredientes na ordem e ir mexendo, levar ao fogo até engrossar| 1 caixa de morangos (limpos e picados).

3) Montagem: Massas divididas no meio | regar cada parte com 1/4 da calda | entre as massas, usar 1/3 do creme de morangos - deixar na geladeira na forma (de preferência de um dia para o outro).


4) Cobertura: 1 xícara de açúcar e 1/2 xícara de água - fazer uma calda | 3 claras - iniciar a bater e acrescentar a calda ainda quente, batendo até ficar no ponto | Depois de cobrir o bolo com o merengue, usa 1 caixa de morango espalhando-os harmoniosamente | 1 colher de amido de milho + 1/2 xícara de açúcar + 1 xícara de água - misturar tudo e levar ao fogo, quando engrossar, acrescentar 1 gelatina de morango. Jogar sobre os morangos, ainda morna.



É isso, bolo de aniversário como presente para o marido dá trabalho - assim como o casamento. Mas, enquanto o resultado for gostoso, equilibrado no sabor e deixar aquele gostinho de quero-mais, vale à pena. Claro, fica um monte de louça para lavar. Mas pode-se deixar para os filhos, ir lavando como parte do processo ou deixar o próprio homenageado fazer parte do seu presente.